A Peninsula

Sunday, November 05, 2006

RITA DE CÁSSIA CADILLAC

O adjetivo grande geralmente me causa, no primeiro momento, certa desconfiança.
Talvez devido à minha baixa estatura – como dizia uma prima, somos pouco mais que uma fita métrica -, incomoda-me essa suposta relação “tem que ser grande para ser bom”.
Ou talvez por ter nascido numa cidade pequena. Sei o quanto se pode crescer fora do eixo.
Fique claro que não tenho nada contra pessoas altas, único caso em que, pela obviedade, não questiono a adjetivação.

Participei de uma discussão entre jornalistas sobre a importância da grande mídia na popularização e valorização de um artista. As opiniões eram diversas, entre as quais a de que quem não está na grande mídia não é nada, não aconteceu, ou já foi.
Grande mídia, o que é? Em primeiro lugar a mídia de São Paulo e Rio de Janeiro. Todo o resto é matéria de afiliada. Então a grande mídia é o critério sobre o que é bom para o país inteiro, a partir do Sudeste?! Um pouco como em outros setores da nossa sociedade.
Lembrei dos aeroportos do nordeste, onde sempre estão à venda CD´s de artistas que nós, do território da grande mídia, nunca ouvimos falar. Quando menos esperamos, somos surpreendidos por uma banda Calypso. Nós que não sabíamos. Bandas de rock do Rio Grande do Sul, pop de Minas Gerais, que descobrimos sempre por último. Cada “afiliada” desse país apresenta um mundo de artistas locais, dos quais um ou outro poderá fazer sucesso. Não é assim também na grande mídia? Quantos já passaram por lá que a gente nem lembra?
O motivo do debate era o suposto ocaso de Rita Cadillac.
Rita Cadillac? A chacrete? Que estava em todos os canais, inclusive nos da grande mídia, até hoje? Que teve seu auge no final dos 70, início dos 80, e até hoje é uma referência nacional?
Lancei-me ao google, orkut, e-mails. Descobri que, por trás de Rita Cadillac tem uma mulher de 52 anos, um filho, uma neta, dona-de-casa que acorda às 07hs para levar suas cachorras para passear. Depois de lavar roupa, cuidar da casa, sai para trabalhar, fazer show, filmar (há 2 anos também pornôs) ou visitar presídios, onde diverte e dá palestras sobre prevenção de DST´s e AIDS, para os presos.
Comentei sobre ela com pessoas dos 20 aos 76 anos. Todos tinham alguma referência, e a resposta sempre começava com um sorriso maroto. Como um garoto de 20 anos - criado na geração do corpo exposto em todos os lugares -, pode ter alguma noção sobre alguém que esteve em destaque, na grande mídia, 30 anos atrás? “Não conheço, mas sei que é gostosa”, foi a resposta.
Nesse momento, decidi ir atrás, não de desmistificar Rita Cadillac, ou mistificar Rita de Cássia. Meu objetivo era ir atrás de um ícone. Mas ícones brasileiros, tão imperfeitos como nós, espelhos da realidade quando não havia o photoshop.
Certamente por isso até hoje é uma lembrança. Nossas características estão lá: saber brigar, conquistar seu espaço e ter consciência que a vida é uma batalha diária, recomeçando sempre, com os recursos que estiverem a mão.
Somos um país muito além do Sudeste, onde o boca-a-boca funciona tanto quanto a grande mídia. Nossos artistas populares são patrimônios do povo, independente de alguém nos dizer em quem devemos nos inspirar. E como nossa história mostra, sempre soubemos ressurgir das cinzas.

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