A Peninsula

Tuesday, November 07, 2006

MEU GOLFINHO

Sou quase um peixe. Um peixe que não sabe nadar.
Por isso, os limites me agradam. As beiradas, as proximidades.
Proximidade da terra e do mar. Mar rasinho, com poucas ondas.
Dunas pequenas, mas que pra mim, meus irmãos e às vezes o namorado de infância, era uma terra de não acabar mais. Rolar, rolar, rolar.
Perto dali, podia ser livre no mar. A Prainha, sem ondas, onde dava pé pra qualquer um, inclusive eu, que não puxei a meu avô materno, única pessoa na família que cresceu, no sentido concreto. Os outros crescemos a alturas variadas, em condições variadas. Em alguns momentos, também encolhemos.
Lá eu podia saltar. Na praia também. Mas com a ajuda do meu pai. Como toda criança, me sentia segura, mesmo não sabendo nadar. Era só ele juntar as mãos, eu colocava um pé apoiado nelas e, com um impulso, mergulhava surgindo de cima de sua cabeça. Meu pai.
Minha mãe nos raros momentos de maiô.
Minha mãe, meu pai, meus irmãos, meu mar, minhas dunas, minhas pedras, minhas conchas.
Gostava – e precisava – de limites, numa praia que se perde de vista, onde o limite não existe e se poderia cruzar o mundo. Ou se perder nele.
Medo de me perder. E acho que muitas vezes me perdi. Mas me reencontro. E rolo dunas abaixo.
Areia, mar, um croquete humano movido a risadas, alegria, gritos de criança.
Às vezes, a notícia de um boto, um pingüim.
Meu bichinho de estimação.
Nosso fliper, prometido pelo pai que atravessou de São José do Norte a Rio Grande a nado. Mas não encontrou nenhum no caminho.
Eu e meu irmão mais velho passávamos horas imaginando o tamanho da piscina para o nosso fliper – e principalmente, onde colocá-la.
Enquanto pensávamos nisso, aceitávamos a demora do pai em trazer nosso golfinho. O nosso fliper.
Eu, peixe que não nada, rolava pelas dunas, pulava as ondas de mãos dadas com meus pais.
E via minha mãe, de maiô, na beira, pulando ondas de mãos dadas com meu pai. Enquanto isso, a gente rolava e esperava o fliper.
Croquete, fliper, sol, às vezes umas andorinhas.
Meu mundo eram pessoas, sol, mar, areia, risadas, saltos, limites e horizontes ilimitados.
Sorriso aberto, vento no rosto, rolando, rolando, rolando, como as ondas.
Pegando conchas.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home