A Peninsula

Tuesday, March 25, 2008

3. MERGULHO E VÔO - A LIBERDADE - Reflexões Sobre a Comunicação Março/2007

Liberdade

Meia noite de um verão quente.
Daniel, advogado e guitarrista da banda cover do U2, “Elevation Band”, está sentado à frente do computador. De bermuda, ventilador ligado, edita o vídeo de apresentação da banda.
Reduzira 4 horas para 24 minutos. A idéia é convidar para cair na estrada com eles, acompanhando os shows, montagens, viagens e... estradas.
A primeira versão tem 12 minutos. Só de árvores vistas da janela da van, mais de 1. Tempo suficiente pra quem estiver assistindo virar na primeira curva.
A seu lado, sua irmã dá palpites.
- O que vocês querem mostrar com esse trecho de estrada?
- A banda, que a gente já rodou bastante com o show.
- Olha, eu acho o seguinte. O cara não tem muito tempo, tem que ganhar de saída. E o melhor é criar um suspense. O que é mais importante? Ver que o público está curtindo, não?
- Sim.
- Eu faria assim: deixa a música de fundo e mescla as imagens de estrada com de platéia, mas bem mais curto. Não mostra vocês ainda, só o público. E no final desse trecho, coloca a última imagem, onde vocês aparecem junto com o público. A mesma imagem que está no início, mas mostrando que quem está empolgando a platéia são vocês. Aí já está a mensagem. O resto, são os detalhes do show, montagem, repertório. Mas o que vocês tinham pra dizer já está dito.
Muitas horas depois, com o dia amanhecendo, o vídeo fica pronto, com 5 minutos e 49 segundos. O trecho para “ganhar” tem 25 segundos.
- Satisfeito?
- Sim. Tudo o que a gente queria dizer está lá. Depois olha como ficou. http://www.youtube.com/watch?v=g7iEDeFGd1U.

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Assim como aprendemos a obedecer regras, descobrimos brechas de Liberdade, onde ninguém nos alcança – ou apenas quem convidamos. Muitos tocam, cantam, criam imagens gráficas, desenham. Outros escrevem, geralmente em segredo.]
O que é a Liberdade?
A primeira lembrança é a viagem, a não prisão. Entendemos melhor a Liberdade pensando em seus opostos, conseguimos defini-la pelo que ela não é.
Liberdade para se expressar implica em comunicação, troca, intercâmbio. Para isso, precisamos perceber o outro. A quem nos dirigimos? Com quem falamos? O que queremos falar?
Em 1936, Walter Benjamin3 escreve que “São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente (...) É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências”. “Uma das causas desse fenômeno é óbvia: as ações da experiência estão em baixa, e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de todo. Basta olharmos um jornal para percebermos que seu nível está mais baixo que nunca, e que da noite para o dia não somente a imagem do mundo exterior, mas também a do mundo ético sofreram transformações que antes julgaríamos impossíveis”.
Judeu alemão, Benjamin se torna completamente cético, chegando ao suicídio em 1940, para não ser capturado pela Gestapo. Enquanto ainda aposta no ser humano, indica alguns caminhos.“A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos”.
Vivendo sob a onipresença da imagem, temos o olhar enquadrado externamente, como se usássemos viseiras. Por outro lado, o avanço das ciências da imagem democratiza a edição. Mais um espaço para nossa Liberdade.
Porém, o equipamento só funciona aliado à sensibilidade de quem o maneja.

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