A Peninsula

Saturday, May 10, 2008

5. MERGULHO E VÔO - SENSAÇÃO DE ABISMO - Reflexões Sobre a Comunicação

Vir do extremo sul do Brasil para as salas de aula da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) é, sem dúvida, uma revolução interna de proporções inimagináveis.
Saí das duas horas e meia de banca de seleção com uma quase certeza, e uma certeza absoluta.
A quase era que havia sido aprovada. A total era que, se fosse verdade, faria aulas com aquele professor que me havia feito as perguntas mais interessantes, mais instigantes.
Fui procurar seu nome. Ainda não sabia do inevitável da Sincronicidade, ou dela me esquecera, depois das aulas de Psicologia. Mas estava lá, datilografado. Laymert Garcia dos Santos.
Não acredito, é ele!
Descobrira Laymert ao encontrar o texto básico para meu projeto de tese. Trabalhando como psicóloga de presídio, o “Discurso da Servidão Voluntária”, de Etienne de la Boétie foi como um sopro de ar novo... ou um soco no estômago! Considerado o primeiro hino à Liberdade já escrito, - e também o pioneiro a falar sobre a importância da opinião pública -, o texto data de aproximadamente 1570.
Na minha limitada definição, eu o apresento assim: que alguém queira mandar, se entende. Mas por que tantos aceitam obedecer?
Laymert faz a tradução e apresentação do texto.
As previsões se realizam e cumpro minha promessa por três anos seguidos. A cada novo curso, minha cabeça se enche com mais e mais questões novas, como se estivesse desbravando um mundo escondido.

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As aulas de Laymert Garcia dos Santos na Pós Graduação da UNICAMP são inesperadas. Os títulos pouco dizem, o conteúdo segue roteiro muito próprio.
No ano de 1989, a turma de Pós Graduação estuda a Guerra de Canudos. Ou melhor, três maneiras como falaram sobre ela: através das matérias jornalísticas da época, literatura inspirada na guerra e Os Sertões, de Euclides da Cunha.
No fundo, o conteúdo é: o que a gente percebe do que vive? E como diz o que percebe?
Isso é o que fazemos o tempo todo, todos os dias. Seleções! Muitas vezes doutrinadas, condicionadas. E quebrar referenciais é cair num mundo desconhecido. Como Dorothy, em O Mágico de Oz.
Uma Sensação de Abismo. Como se não coubéssemos em nós, fôssemos sair pela boca.
“Dizer é momento. Momento em que se quer o que se pode, e já se pode o que se quer. (...) Dizer é difícil, extremamente difícil. (...) Séculos e séculos de servidão formaram, transformaram, refinaram as forças da morte em vida. (...) É a ‘guerra dos órgãos´. Insurreição generalizada, mas sempre local. Descontrole”, diz Laymert Garcia dos Santos. E acrescenta: “Dizer é dicção. Dicção cujo tempo é sempre presente, sempre dizendo . (...) As bocas fazem circular a linguagem triunfante da ordem. Como captar essa circulação? Dito de outro modo: como ouvi-la?”

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