A Peninsula

Thursday, November 09, 2006

SEI LÁ, MIL COISAS. OU NENHUMA!

Hoje a vontade é de apenas escrever, sem nada pensado.
Só prá dar um oi.
Como um amigo que estava no Japão e decidiu deixar um recado no seu próprio celular, brasileiro. Todos os amigos sabiam que ele estava lá, portanto ninguém ligava.
Menos eu! Eu sabia que ele estava lá, mas esqueci.
Quando ele foi gravar sua mensagem, achou a minha:
- Oi Casa, saudades! Sabes que dia é hoje? Imagino que estejas triste. Passei aqui só prá te mandar um beijo.
Dois dias depois, ele me liga da Coréia!

Quem sabe alguém me liga, ou manda mensagem, de algum lugar que eu não tenha nem idéia?

Wednesday, November 08, 2006

A FOTO

Sou muito medrosa. Tenho medo de montanha russa, roda gigante, altura, escuro, filme de terror.
Mas, das limitações que esse medo me traz, a única que eu lamentava era não poder ver o fundo do mar, pois não aprendi a nadar.
Nascida numa cidade onde se pode encontrar pingüins, leões e lobos marinhos, um dia me encontro num pequeno barco com mais 12 pessoas em Abrolhos, sul da Bahia.
De colete salva-vidas, enquanto aguardávamos a chegada dos monitores do Ibama para nos acompanhar nas ilhotas, observava as pessoas saltando na água.
Desabafei com o operador da lancha. Todo aquele mar, tão perto e tão indisponível. Ao ver que não conseguiria me convencer que não havia risco, que o colete não me deixaria afundar, ele levantou e jogou o bote inflável no mar, amarrado ao barco por uma corda.
Reuni todas as coragens das quais me sirvo para as tarefas do cotidiano: trabalhar, cuidar da casa, morar - e dirigir - numa cidade grande, coloquei snorkel, óculos, pé de pato, fui até a popa, me segurei na escada e comecei a descer.
Até que chegou o último degrau, não teria mais onde pisar. Num impulso, meu corpo se dobrou e fiquei agarrada ao barco, imóvel.
Incentivada pelos companheiros de viagem, que eu acabara de conhecer, espichei o braço esquerdo até a corda que prendia o bote. Num processo lento e descontinuado, me segurei na corda, deslizei por ela até o bote e me apoiei no acordoamento lateral. Uma sensação de pequena subversão tomou conta de mim, soltei-me do bote e flutuei. Finalmente, mergulhei. Foi um momento mágico: um peixe enorme e colorido vinha na minha direção. No começo, um susto, a primeira reação foi querer fugir. Mas o medo instantaneamente se metamorfoseou numa sensação completamente nova, eu era outra pessoa, desconhecida para mim. O susto se transformou em felicidade.
Ao voltar à tona, pedi que registrassem meu momento de coragem. Tirei a foto mais ridícula da minha vida. Óculos, snorkel e a sombra de um biquíni azul. Só eu sei que sou eu. Me reconheço no sorriso mais sincero e profundo da minha vida!

Tuesday, November 07, 2006

MEU GOLFINHO

Sou quase um peixe. Um peixe que não sabe nadar.
Por isso, os limites me agradam. As beiradas, as proximidades.
Proximidade da terra e do mar. Mar rasinho, com poucas ondas.
Dunas pequenas, mas que pra mim, meus irmãos e às vezes o namorado de infância, era uma terra de não acabar mais. Rolar, rolar, rolar.
Perto dali, podia ser livre no mar. A Prainha, sem ondas, onde dava pé pra qualquer um, inclusive eu, que não puxei a meu avô materno, única pessoa na família que cresceu, no sentido concreto. Os outros crescemos a alturas variadas, em condições variadas. Em alguns momentos, também encolhemos.
Lá eu podia saltar. Na praia também. Mas com a ajuda do meu pai. Como toda criança, me sentia segura, mesmo não sabendo nadar. Era só ele juntar as mãos, eu colocava um pé apoiado nelas e, com um impulso, mergulhava surgindo de cima de sua cabeça. Meu pai.
Minha mãe nos raros momentos de maiô.
Minha mãe, meu pai, meus irmãos, meu mar, minhas dunas, minhas pedras, minhas conchas.
Gostava – e precisava – de limites, numa praia que se perde de vista, onde o limite não existe e se poderia cruzar o mundo. Ou se perder nele.
Medo de me perder. E acho que muitas vezes me perdi. Mas me reencontro. E rolo dunas abaixo.
Areia, mar, um croquete humano movido a risadas, alegria, gritos de criança.
Às vezes, a notícia de um boto, um pingüim.
Meu bichinho de estimação.
Nosso fliper, prometido pelo pai que atravessou de São José do Norte a Rio Grande a nado. Mas não encontrou nenhum no caminho.
Eu e meu irmão mais velho passávamos horas imaginando o tamanho da piscina para o nosso fliper – e principalmente, onde colocá-la.
Enquanto pensávamos nisso, aceitávamos a demora do pai em trazer nosso golfinho. O nosso fliper.
Eu, peixe que não nada, rolava pelas dunas, pulava as ondas de mãos dadas com meus pais.
E via minha mãe, de maiô, na beira, pulando ondas de mãos dadas com meu pai. Enquanto isso, a gente rolava e esperava o fliper.
Croquete, fliper, sol, às vezes umas andorinhas.
Meu mundo eram pessoas, sol, mar, areia, risadas, saltos, limites e horizontes ilimitados.
Sorriso aberto, vento no rosto, rolando, rolando, rolando, como as ondas.
Pegando conchas.

Monday, November 06, 2006

PRÓXIMOS CAPÍTULOS - Aos companheiros de Jornalismo Literário

Estou chegando agora.
Não sei o que me espera, mas o que desejo.
E o que sentirei em breve.
Que marcas essas pessoas, que 10 meses atrás eu desconhecia, deixarão na minha vida? Que espaço continuarão ocupando?
De novo, sei o que desejo. Já pensei em marcarmos de nos ver pelo menos uma vez por mês. Ou de produzirmos textos juntos.
Mas existe a realidade. E a minha já tem me deixado longe, quando ainda não era necessário.
Necessidade e desejo. Parece que tudo se resume a isso, em todos os campos da vida.
Quero encontrar a floresta do meu sonho, a criança sorridente que corria. E eu, sentada recostada a uma árvore, caderno e caneta à mão, contemplando e me deixando levar.
Felizmente, no meio disso tudo, ao mesmo tempo tão bom e tão solitário, a imagem da Síndia.
Espero que, como ela, eu consiga sair do casulo. E libertar o meu texto.

Sunday, November 05, 2006

RITA DE CÁSSIA CADILLAC

O adjetivo grande geralmente me causa, no primeiro momento, certa desconfiança.
Talvez devido à minha baixa estatura – como dizia uma prima, somos pouco mais que uma fita métrica -, incomoda-me essa suposta relação “tem que ser grande para ser bom”.
Ou talvez por ter nascido numa cidade pequena. Sei o quanto se pode crescer fora do eixo.
Fique claro que não tenho nada contra pessoas altas, único caso em que, pela obviedade, não questiono a adjetivação.

Participei de uma discussão entre jornalistas sobre a importância da grande mídia na popularização e valorização de um artista. As opiniões eram diversas, entre as quais a de que quem não está na grande mídia não é nada, não aconteceu, ou já foi.
Grande mídia, o que é? Em primeiro lugar a mídia de São Paulo e Rio de Janeiro. Todo o resto é matéria de afiliada. Então a grande mídia é o critério sobre o que é bom para o país inteiro, a partir do Sudeste?! Um pouco como em outros setores da nossa sociedade.
Lembrei dos aeroportos do nordeste, onde sempre estão à venda CD´s de artistas que nós, do território da grande mídia, nunca ouvimos falar. Quando menos esperamos, somos surpreendidos por uma banda Calypso. Nós que não sabíamos. Bandas de rock do Rio Grande do Sul, pop de Minas Gerais, que descobrimos sempre por último. Cada “afiliada” desse país apresenta um mundo de artistas locais, dos quais um ou outro poderá fazer sucesso. Não é assim também na grande mídia? Quantos já passaram por lá que a gente nem lembra?
O motivo do debate era o suposto ocaso de Rita Cadillac.
Rita Cadillac? A chacrete? Que estava em todos os canais, inclusive nos da grande mídia, até hoje? Que teve seu auge no final dos 70, início dos 80, e até hoje é uma referência nacional?
Lancei-me ao google, orkut, e-mails. Descobri que, por trás de Rita Cadillac tem uma mulher de 52 anos, um filho, uma neta, dona-de-casa que acorda às 07hs para levar suas cachorras para passear. Depois de lavar roupa, cuidar da casa, sai para trabalhar, fazer show, filmar (há 2 anos também pornôs) ou visitar presídios, onde diverte e dá palestras sobre prevenção de DST´s e AIDS, para os presos.
Comentei sobre ela com pessoas dos 20 aos 76 anos. Todos tinham alguma referência, e a resposta sempre começava com um sorriso maroto. Como um garoto de 20 anos - criado na geração do corpo exposto em todos os lugares -, pode ter alguma noção sobre alguém que esteve em destaque, na grande mídia, 30 anos atrás? “Não conheço, mas sei que é gostosa”, foi a resposta.
Nesse momento, decidi ir atrás, não de desmistificar Rita Cadillac, ou mistificar Rita de Cássia. Meu objetivo era ir atrás de um ícone. Mas ícones brasileiros, tão imperfeitos como nós, espelhos da realidade quando não havia o photoshop.
Certamente por isso até hoje é uma lembrança. Nossas características estão lá: saber brigar, conquistar seu espaço e ter consciência que a vida é uma batalha diária, recomeçando sempre, com os recursos que estiverem a mão.
Somos um país muito além do Sudeste, onde o boca-a-boca funciona tanto quanto a grande mídia. Nossos artistas populares são patrimônios do povo, independente de alguém nos dizer em quem devemos nos inspirar. E como nossa história mostra, sempre soubemos ressurgir das cinzas.

A FAVOR DE EMIR SADER - http://www.petitiononline.com/emir2006/

Diante do fato inegável que, finalmente, temos uma arma importantíssima nas mãos, a Internet, gostaria de fazer uma proposta.
Ao invés de ficarmos tentando convencer - alguns delicadamente, outros de maneira mais dura e até mesmo agressiva - jornalistas e internautas de nossas posições e argumentos, vamos ter uma atitude mais positiva e eficaz.
A essa altura do campeonato, muitos de nós já discernimos em quais articulistas podemos confiar e o que está por trás dos comentários.
O que precisamos agora é construir o país que queremos.
Não se trata de tapar o sol com a peneira. Acho importante lermos o que eles estão dizendo, para continuarmos entendendo como eles tentam nos engambelar.
Mas temos mais o que fazer.
Afinal, se a importância de um jornalista pode ser medida pela repercussão de suas matérias, vamos deixá-los sem comentários. Eles só estão esperando que lhes demos motivos para confirmar a péssima impressão que querem que nós passemos.
Temos que garantir a liberdade de expressão? Sem dúvida. Vamos começar pela liberdade de expressão e direito ao trabalho de Emir Sader.
Segue o link para assinatura da petição a favor do Emir. http://www.petitiononline.com/emir2006/
No lugar de darmos ibope a esses jornalistas que já sabemos a serviço de quem estão, vamos passar correntes para que as pessoas se manifestem.
Eles já perderam nas urnas. Tentaram criar o medo de um terceiro turno que, após os políticos da oposição dizerem que não levariam adiante – afinal, não se brinca com 58 milhões de eleitores -, tomaram para si, criando a falsa idéia de um ataque contra a democracia.
Essa crise é de credibilidade, que eles fizeram por merecer. Já apontamos a farsa, já fizemos nossa parte, já colocamos limites e denunciamos as armações.
Quem acompanha a imprensa, sabe o quanto parte dela se alimenta das más notícias. Então vamos romper esse círculo e encher a caixa postal de apoio aos jornalistas em quem confiamos. Cada um sabe dos seus.
Repito: importante conhecermos como eles se articulam. Procuro ler os jornais nos quais não confio, ver os telejornais que tentam criar uma realidade que não é a que experimentamos. Mas vamos deixá-los sem resposta. Sinceramente, entre as batalhas do dia-a-dia, prefiro usar meu papel como cidadã me unindo a quem quer, de verdade, construir um mundo mais justo.
Sabemos o quanto essa batalha é árdua, para desperdiçamos tempo, neurônios e até músculos para digitar mensagens a quem não quer nos ouvir.

Minha lista de jornalistas e sites nos quais confio, o que não quer dizer necessariamente que concordemos, eles e eu:
Luis Nassif - http://luisnassif.blig.ig.com.br/
Paulo Henrique Amorim - http://conversa-afiada.ig.com.br/
Mino Carta - http://blogdomino.blig.ig.com.br/
Tereza Cruvinel - http://oglobo.globo.com/blogs/tereza/
Luiz Carlos Azenha - http://viomundo.globo.com/
Franklin Martins - http://www.franklinmartins.com.br/
Paulo Markun - Jornal de Debates - http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx
Venicius A. de Lima - http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=405JDB003
Observatório de Mídia - http://www.observatoriodemidia.org.br/
Agência Carta Maior - http://cartamaior.uol.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1

Saturday, November 04, 2006

COMO UM RAIO

O que fazer? Para onde ir?
Uma coisa define a outra? Tipo o que veio antes, o ovo ou a galinha?
O que fazer depende de para onde vou? Às vezes.
Se quero ver lobos marinhos, posso ir prá minha cidade. Baleias? Santa Catarina. O fundo do mar? Abrolhos.
A mim mesma? O tipo de animal que sou se encontra aonde?
Mas seu eu não quiser ver nada, ou ter tanta coisa à frente dos olhos que tudo e nada se tornam um só? Pode ser São Paulo? Ou até mesmo Rio de Janeiro, com sua mistura de natureza, horizonte, suor e perigos, os que quero viver ou dos quais quero fugir?
E onde não vejo coisa alguma, onde estou eu? Bons momentos nos quais me esqueço. Ou me escondo?
Quando a vida se encarregou de decidir sozinha onde eu deveria estar, e me tirou a autoridade de fazer o que eu resolvesse, eu estava lá ou não?
Certa vez, num desses momentos em que não optei, cheguei em Ceres, cidadezinha do interior de Goiás. Acompanhava uma banda que eu não teria escolhido, num lugar que eu não sabia existir, para fazer algo que não era o que me movia. Mas precisava fazê-lo.
A cidade tampouco sabia de mim. Tanto que tiveram que retirar objetos de uma pequena despensa, onde colocaram um colchão que seria minha cama por uma noite.
Estávamos num arremedo das feiras que abundam no interior paulista. Anônima, não existente, decidi me aventurar na transformação da mulher gorila. Adentrei a sala escura com um dos músicos. Tudo tão fake que me permitiria a brincadeira.
Então ela surgiu, feia, esquisita, mambembe. Show de luzes. Show?
Começou a transformação. Nesse momento, o eu que até então não havia chegado à cidade apareceu, correndo pelo parque vazio. A pequena Ceres se perguntava quem era aquela louca que fugira de um lugar que não existia no mapa.

Friday, November 03, 2006

A PENÍNSULA

Tudo deságua no mar
O útero é um grande mar
O abraço é um grande mar
Minha cidade está num grande mar
Uma península
A pontinha que impede de ser ilha
É o que me liga à realidade